O ex-deputado José Riva (PSD) está convicto de que a juíza da Vara Especializada Contra o Crime Organizado da Comarca de Cuiabá, Selma Arruda, tem “problemas pessoais” contra ele, e que todas as suas decisões são para lhe prejudicar. Por isso, a defesa do ex-deputado pede na Justiça a suspeição da magistrada das ações que ele responde por possível desvio de dinheiro público, enquanto presidente da Assembleia Legislativa.
O “desafeto” dos dois, réu e juíza, acabou virando bate-boca em sala de audiência ocorrida em 24 de junho deste ano. Na oportunidade, a magistrada tinha que assinar o termo de soltura do ex-deputado, concedido pelo ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal (STF), mas, ela achou necessária a colocação de tornozeleira eletrônica no acusado.
A atitude não agradou Riva que acusou a juíza de “perseguição”. A magistrada por sua vez, disse que estava sendo pressionada pelo ex-deputado e pela sua legião de seguidores. Confira a discussão:
José Riva: (...) A senhora está com problema pessoal comigo, doutora. A senhora deveria admitir que o que a senhora está fazendo nesse processo é uma aberração.
Selma Arruda: Olha, eu acho que o senhor deve se manter na sua posição.
José Riva: Mas eu estou mantendo, doutora.
Selma Arruda: E o senhor deve se manter também numa posição de não me desrespeitar.
José Riva: Eu não estou desrespeitando.
Selma Arruda: O senhor entendeu? O senhor não está no Parlamento, o senhor não tem nenhuma, nenhuma isenção.
José Riva: A decisão do STF não manda colocar tornozeleira eletrônica.
Selma Arruda: A decisão do STF... Eu vou lhe explicar. Agora, eu vou lhe explicar.
José Riva: Eu li a ata, doutora. Eu li a ata.
Selma Arruda: É? Então, eu vou lhe mostrar aqui.
José Riva: Mas a ata não é a decisão.
Selma Arruda: Já que o senhor está em dúvida, eu vou lhe mostrar. Tem problema, não... Eu tenho mais o que fazer do que cuidar do seu processo.
José Riva: A senhora não dá o mesmo tratamento para nós que a senhora dá para a acusação.
Selma Arruda: Olha aqui... Isso aqui é uma certidão, isto aqui é uma certidão que diz o seguinte... O senhor não tem conhecimento jurídico, eu vou lhe explicar, adequadamente...
José Riva: Eu sou bacharel...Eu já li.
Selma Arruda: Não, não, não...O senhor é bacharel, mas não em Direito, né. Olha só, eu não sei o que o senhor entendeu da decisão de ontem, mas aqui está dizendo o seguinte: “Aplicação das medidas...Expeça-se alvará de soltura, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo da aplicação de medidas cautelares previstas na nova legislação do art. 319 do CPP”.
José Riva: (...) Por essa ata a senhora está certa (...).
Selma Arruda: Ah, é? (...) Então, o senhor não fale mais que eu tenho alguma coisa pessoal contra o senhor. Vou lhe dizer uma coisa. Eu deveria ter feito, decidido nesse processo seu amanhã. Porque hoje eu tive que desmarcar uma audiência para atender essa pressão toda que o senhor e a sua legião de seguidores fazem...”
José Riva: Eu!? Eu estou na cadeia quietinho, doutora. Hã... Quem faz pressão não sou eu não.
Selma Arruda: É, né?
José Riva: Só ver o linchamento que nós passamos aí, doutora. E eu não roubei... Eu vou provar para a senhora que eu não roubei...
Selma Arruda: Tomara que o senhor prove.
José Riva: Ah. É difícil para a senhora provar. Para a senhora, não é fácil provar. A senhora já tem juízo de valor.
Selma Arruda: Olha, o processo está quase encerrando a instrução, né? Dá para ter algum juízo prévio... de alguma coisa dá para ter. Pode encerrar, Guilherme [assessor da juíza].
Selma Arruda: É bom que o advogado lhe explique essas coisas, pro senhor não achar que eu estou lhe crucificando, jogando pedras, né? O senhor não vai conseguir provocar a suspeição. O senhor quer provocar, mas não vai conseguir.
José Riva: Nós somos em 24 deputados, e eu nunca fiz nada sem os 24 deputados reunirem.
Selma Arruda: O senhor não é deputado, o senhor não é deputado.
José Riva: Nós éramos deputados. E eu nunca fiz nada, sem os 24 deputados. Mas a senhora pesou a mão em cima de mim, e aí... Eu virei o grande bandido desse Estado.
Selma Arruda: O senhor não é o grande bandido desse Estado.
José Riva: Não sou. E nem corrupto eu sou.
Selma Arruda: Mas o senhor é quem está mais em evidência nesse momento.
José Riva: Doutora, eu perdi todo o meu patrimônio de 30 anos. A senhora sequestrou bens que há trinta anos foram vendidos. 30 anos!
Selma Arruda: Uhum...
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