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Saúde Domingo, 05 de Maio de 2013, 11:45 - A | A

Domingo, 05 de Maio de 2013, 11h:45 - A | A

Efeito da cocaína

Paixão é cocaína. Amor é Rivotril

Quando Pixinguinha cantou que o coração dele “não sei por quê/bate feliz/quando te vê”, estava involuntariamente narrando os efeitos da dopamina sobre o batimento cardíaco. Bon Jovi também, quando canta que o heart dele beats like a drum em Born to be my

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Bate de uma hora para a outra. Você está mais feliz do que uma criança numa piscina de algodão-doce. As preocupações sumiram. O resto do mundo evaporou. E ela é tudo o que importa. Se está longe, dói. De verdade, como se você tivesse apanhado. Mas se ela chega perto vira o melhor analgésico do mundo. Parabéns: você está apaixonado. Caiu na armadilha mais sofisticada da natureza.

Sim, porque a paixão é um instinto. Um tão automático e irracional quanto o que faz as formigas viverem numa sociedade industrial comunista sem terem lido Marx ou um joão-de-barro construir uma casa sem ter feito faculdade de engenharia civil.

O processo que desencadeia esse instinto começa com descargas de dopamina – a mesma substância que a cocaína ativa no cérebro. Essas descargas, do ponto de vista científico, existem por um único motivo: fazer você produzir filhos. Claro que tudo isso acontece sem que você tenha a menor consciência. Ninguém pensa em crianças no momento em que se apaixona. Muito pelo contrário. Mas a real é que não somos diferentes de uma formiga ou de um joão-de-barro: fazemos o que os instintos mandam. E a razão última de todos os instintos que envolvem o amor é produzir filhos, passar os genes adiante, de preferência na companhia dos melhores genes disponíveis no mercado.

Pense numa balada. A coisa é basicamente um pregão da bolsa de genes. Todo mundo procura pelos melhores pacotes genéticos do lugar e negocia possibilidades de fusão – geralmente com os mais bonitos. Beleza. Por que a beleza, em última instância, é um indício visível de saúde. E seu cérebro move você em direção a esses pacotes aparentemente mais saudáveis, já que a possibilidade de eles gerarem filhos melhores é mais alta. Inteligência também conta. Se alguém te faz rir numa conversa de 30 segundos, esse alguém não é burro. E tem uma chance razoável de te dar filhos mais espertos do que você teria se se reproduzisse por brotamento. Ponto para o pacote genético do sujeito.

De novo: vamos atrás das “possibilidades de fusão” com outros pacotes genéticos pelo prazer que a fusão proporciona – seja na cama, seja indo viajar para a Europa com alguém especial. Mas o prazer só existe como recompensa pelo verdadeiro trabalho, que é produzir crianças. Os orgasmos são descargas de dopamina que recompensam você pela tarefa de tentar fundir seus genes com os de alguém. E os instintos que criam os orgasmos são cegos: não fazem a menor ideia se o dono do cérebro está usando camisinha. Ou se ele é homossexual. Ou se ele planejou não ter filhos por que acha criança um saco… Seus instintos não conversam com outras partes do seu cérebro, como a que determina sua sexualidade ou seus planos para o futuro.

Bom, a piscina de algodão doce que se abre quando você está só passeando com alguém especial também é dopamina, só que numa dose mais leve e contínua. Mas não existe descarga de dopamina grátis. Os efeitos colaterais de estar apaixonado são basicamente os mesmos da cocaína: insônia, agonia, taquicardia.

Quando Pixinguinha cantou que o coração dele “não sei por quê/bate feliz/quando te vê”, estava involuntariamente narrando os efeitos da dopamina sobre o batimento cardíaco. Bon Jovi também, quando canta que o heart dele beats like a drum em Born to be my Baby. Morrissey faz uma descrição mais dramática. E mostra bem o quanto um mero passeio de carro sob a euforia dopamínica pode ser eletrizante para o cérebro do apaixonado:

If a double-decker bus

Crashes into us

To die by your side

It´s such a heavenly way to die

(“Se um ônibus de dois andares/Bater na gente…/Morrer ao seu lado… Taí um jeito paradisíaco de morrer”)

 

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