A psicóloga Jaqueline França explicou em entrevista ao oticias No Ar, nessa segunda-feira (01.03), como uma pessoa dentro do espectro do autismo tem lidado com a questão do isolamento social, em decorrência da pandemia da Covid-19.
De acordo com a psicóloga, a pandemia é fenômeno mundial, que tirou todos da zona de conforto, deixando algumas pessoas mais fragilizadas, como é o caso das crianças dentro do espectro do autismo.
Segunda ela, as crianças dentro do espectro têm disfunção no processamento sensorial, ou seja, eles sentem com mais intensidade alguns estímulos no corpo. Ela citou que os autistas, na maioria, não gostam de usar roupa, sapato fechado, meias, adereço, pois tudo que agarra no corpo deles é muito difícil e eles se sufocam e sentem dores de verdade. Ela lembrou que para eles usarem a máscara de proteção contra o vírus, é muito difícil.
“Para as crianças dentro do espectro é muito difícil compreender sobre lavar as mãos a todo o momento e usar a máscara quando sair. Então eu aconselho que os pais e familiares tenham paciência”, disse ela.
A profissional reforçou que a Lei nº 1.4019, criada em junho do ano passado, que dispensa o uso da máscara para pessoas com transtorno do espectro autista, é o que está facilitando e ajudando essas famílias.
Já a alerta de paciência é para todos os pais, em especial para aqueles pais que estão enfrentando a questão da rigidez no pensamento que as crianças dentro do espectro têm. Segundo ela, as crianças criam rituais, formas e manias na sua rotina, sempre fazendo as coisas do mesmo jeito. Então quando elas se viram impossibilitas de irem para escola, terapia, elas ficaram desorganizadas e sem controle.
Jaqueline avaliou ainda que isso aumentou alguns comportamentos indesejáveis nessas crianças, como, por exemplo, crianças fugindo, se agredindo, quebrando coisas no ambiente familiar, tudo isso por não conseguirem lidar com a situação.
Questionada pelo VG Notícias quando surgiu e qual a origem do autismo, a psicóloga explicou que o autismo hoje é considerado um transtorno, e disse que após estudos foram constatados que o autismo tem uma pré-disposição genética.
O autismo foi descrito em 1940, descoberto por dois estudiosos que observavam o comportamento das crianças. Segunda ela, no decorrer dos anos foi dado vários nomes para o autismo, como esquizofrenia infantil, transtorno invasivo do desenvolvimento, para até hoje, chegar ao espectro do autismo, e por conta dessa evolução, foi se oferecendo determinados tratamentos para o transtorno.
“O autismo é visto como uma condição neurobiológica. Esse cérebro tem dificuldade de seguir comando relacionado à interação social, a entender códigos, dificuldade de se comunicar, como iniciar ou manter uma interação nas áreas de linguagem e contato visual, usar expressão facial”, disse ela.
Jaqueline avaliou também que as crianças dentro do espectro têm a necessidade de auto regulação maior, pois o cérebro delas sobrecarrega muito mais, e elas precisam fazer comportamentos repetitivos intensos e às vezes até compulsivos para conseguir se organizar novamente. Por isso que essas crianças mexem muito com as mãos, correm, pulam, emitem sons ou palavras.
A respeito da classificação de grau do autismo, após um diagnóstico formalizado, Jaqueline disse que hoje são classificados em três categorias, os casos leves, moderados e severos.
Ela explicou que se a criança quando tem comorbidades, ou seja, outros transtornos que se juntam ao espectro, por exemplo, depressão, ansiedade, toque compulsivo, anorexia, bulimia, compulsão alimentar, isso torna o quadro severo, passando a criança a ser mais dependente dos outros.
Ela enfatizou que essas crianças não conseguem ir para escola e ficam sozinhas, elas precisam de tutores, acompanhantes terapêuticos para conseguirem estar nos ambientes e aproveitar tudo que esses locais podem proporcionar.
Já a criança dentro do espectro com grau leve consegue ser mais independente, e que algumas vezes as pessoas nem percebem que ela está dentro do espectro do autismo.
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