Nelson Rodrigues não é apenas o principal autor do teatro brasileiro. É também o mais provocante e abusado, porta-voz dos desejos e caprichos da faixa da população que se convencionou chamar de classe média.
Suas peças – que se somam a crônicas e ficções – tratam de temas picantes como traição, romance entre pessoas da mesma família, violência e ciúme.
O dramaturgo nasceu em Recife, em 23 de agosto de 1912. Quatro anos depois, a família se mudou para o Rio, que se transformou em cenário de suas histórias. Antes de ingressar no teatro, ele trabalhou no jornal "A Manhã", pertencente a seu pai, Mário Rodrigues.
Nos primeiros anos, Nelson foi repórter policial, o que lhe rendeu inspiração para várias boas histórias, e depois se dedicou ao jornalismo esportivo.
Arnaldo Jabor adaptou o dramaturgo para o cinema em "Toda Nudez será Castigada" (1973). A história gira em torno de um jovem que se apaixona pela prostituta casada com seu pai. Ele considera que o longa valoriza o mais importante na biografia de Nelson: o talento para falar do óbvio. "Ele descobriu uma dramaticidade profunda nas coisas mais irrelevantes e desnecessárias do cotidiano, as coisas óbvias".
O jornalista conheceu Nelson na adolescência, quando estudava com o filho dele. Na opinião de Jabor, o dramaturgo não era um crítico da sociedade. "Ele era um satírico, gostava de sacanear, de denunciar o sujeito que se acha o máximo. Era incrível sua habilidade para nos fazer duvidar das ideias prontas", conclui.
Nelson morreu em 1980, aos 68 anos, de insuficiência cardíaca e respiratória.
Vida de Nelson vai virar peça
Estrela de montagens originais das peças de Nelson Rodrigues, a atriz Fernanda Montenegro organiza a encenação da biografia "Nelson por ele mesmo", escrita por sua filha, Sônia Rodrigues.
A estreia está prevista para o fim do ano. O escritor e dramaturgo deverá ser interpretado pelo ator Otávio Augusto.
Dramaturgia completa
Nelson escreveu 17 peças, classificadas em três grupos pelo crítico Sábato Magaldi. Veja quais são e onde vê-las em São Paulo.
Tragédias cariocas
A Falecida (1953)
Perdoa-me por me Traíres (1957)
Os Sete Gatinhos (1958)
Boca de Ouro (1959)
O Beijo no Asfalto (1960)
Bonitinha, mas Ordinária (1962)
Toda Nudez será Castigada (1965)
A Serpente (1978)
Psicológicas
A Mulher sem Pecado (1941)
Vestido de Noiva (1943)
Valsa nº 6 (1951)
Viúva, Porém Honesta (1957)
Anti-Nelson Rodrigues (1974)
Míticas
Álbum de Família (1946)
Anjo Negro (1947)
Senhora dos Afogados (1947)
Doroteia (1949)