26 de Abril de 2024
26 de Abril de 2024
 
menu

Editorias

icon-weather
lupa
fechar
logo

Nacional Terça-feira, 24 de Junho de 2014, 09:06 - A | A

Terça-feira, 24 de Junho de 2014, 09h:06 - A | A

Morador de rua cuida da limpeza de estádio da Copa

César trabalha no Beira-Rio e dorme embaixo de viaduto na capital gaúcha

G1

Entre centenas de funcionários temporários contratados pela Fifa para a Copa do Mundo no Beira-Rio, em Porto Alegre, poucos carregam a credencial da entidade como se fosse uma relíquia. Não se trata de orgulho por trabalhar para a entidade que comanda o futebol mundial, mas medo de ter de pagar uma "fortuna" de US$ 200 em caso de perda. César Augusto Martins, 31 anos, não tira o crachá nem para dormir. No caso dele, porém, há um contexto que agrava a situação: ele é morador de rua e dorme embaixo do viaduto Otávio Rocha, no Centro de Porto Alegre.

Nascido em Uruguaiana, ele é carpinteiro e se  inscreveu no Sistema Nacional de Empregos (Sine) para concorrer às vagas de serviço de limpeza do estádio. A única exigência era de que o candidato não tivesse ficha na polícia.

Conseguiu o trabalho e atualmente enfrenta um turno de 12 horas de trabalho pela noite e madrugada na empresa contratada pela Fifa para o serviço, sete dias por semana, por uma remuneração mensal de R$ 800.

“Limpo os banheiros, os vidros, limpo o estádio por dentro e por fora. Quando volto para a rua é assim, tenho medo de perder a credencial. Deus me livre", conta ao G1, sentado embaixo do viaduto erguido sobre a Avenida Borges de Medeiros, uma das principais da capital.

A estrutura abriga, além de César, dezenas de outros moradores de rua diariamente. "Se perco isso, tenho de pagar quase o meu salário inteiro, tudo em dólares. Durmo, acordo e quando dá para tomar banho também não tiro. É como se fosse ouro”, define.

Quando consegue, César dorme em albergues. Mas ele mesmo admite que vive na rua por opção, já que seu pai mora no bairro Restinga, na Zona Sul de Porto Alegre.

"Não me dou com ele, nem com a minha madrasta. Pelo menos não passo fome”, afirma, referindo-se aos voluntários que passam pelo local todos os dias oferecendo comida. "Aqui na rua não me incomodo. Não me importo nem com o barulho dos carros".

Apesar de passar as noites na rua, não reclama de cansaço, nem do movimento em uma das vias mais movimentadas da capital. Só se mostrou assustado em meio ao protesto que passava pelo local na tarde de segunda (23.06), quando cerca de 80 manifestantes fizeram um ato contra a Copa do Mundo no Brasil.

“Vou falar a real. Não estou nem aí para a Copa. Não tem vantagem nenhuma para nós, só para os turistas. Enquanto isso, não tem hospital decente, não tem educação de qualidade”, afirma. “Esse pessoal que está protestando contra a Copa está certo. Eu só não me misturo porque tenho de dormir”, diz, enquanto via o grupo passar pela avenida, acompanhado pela Brigada Militar.

“Eu quero mesmo é sair da rua e largar as drogas. Ter uma casa, uma família, um emprego fixo. Por isso estou trabalhando, estou buscando isso", garante.

Mesmo trabalhando no maior evento que Porto Alegre já recebeu, César considera o serviço como qualquer outro. "O funcionário também não tem direito a nada. Não pode olhar o jogo, não ganha ingresso", reclama.

A empresa que terceirizou os serviços de limpeza do Beira-Rio para a Fifa, a qual contratou César, é a KM Limpezas Especiais. Ao G1, a KM confirmou ter contratado moradores de rua como uma oportunidade de inclusão, mas não pôde confirmar o nome de César Augusto Martins Alves como funcionário. Segundo a empresa, há um contrato de confidencialidade e sigilo assinado com a Fifa.

Comente esta notícia

RUA CARLOS CASTILHO, Nº 50 - SALA 01 - JD. IMPERADOR
CEP: 78125-760 - Várzea Grande / MT

(65) 3029-5760
(65) 99957-5760