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Artigos Quinta-feira, 19 de Outubro de 2017, 13:48 - A | A

Quinta-feira, 19 de Outubro de 2017, 13h:48 - A | A

opinião

Nada nos une

por Roberto Boaventura *

Depois de longo período de governos petistas – erroneamente ditos e vistos como de esquerda –, interrompido após impressionante acúmulo de práticas de corrupção, arraigadas em tantos partidos da velha direita, muito da esperança, que enfim vencera o medo, foi se dissolvendo no ar.

Da dissolução, aos poucos, o país vem assistindo a um ressurgimento, antes impensável, do pensamento e das ações reacionárias, tudo muito perigoso, alhures, desde que o mundo é mundo.

O processo de dissolução da esperança teve início quando os governos petistas, formado por novos adeptos dos interesses do capital e seguindo a cartilha neoliberal, que em nada se identifica com as esquerdas, empreenderam uma divisão da classe trabalhadora, aliás, “nunca antes vista...”.

Rasgando o lema “Trabalhadores do mundo, uni-vos”, o PT apostou na formulação de diversas políticas compensatórias. Assim, a fragmentação dos trabalhadores estava consolidada.

A noção de classe dera lugar à de grupos sociais. Na linha da inclusão, cada agrupamento passou a lutar por conquistas exclusivas. As cotas raciais são exemplos disso. A visão de totalidade dera lugar à visão do foco, que, via de regra, ofusca a possibilidade da compreensão do todo.

Nesse percurso, o PT, que já se esmerava na “corruption made in Brazil”, matando de inveja muitos velhacos da direita, passou a cooptar lideranças de movimentos sociais, sindicais, estudantis e trabalhistas. Pornografia política.

Tudo isso resultou em tragédia para a classe trabalhadora. Agora, nada parece conseguir nos unir. Nem mesmo atos de censura já em curso, frutos de uma onda assustadora de reacionarismo, aliada a uma produzida ignorância cultural de nosso povo.

Só em Cuiabá, em curto período de tempo, duas mostras (uma de fotografia, outra de pintura) foram recentemente censuradas por dois shoppings; claro que com a pressão daquela parte da sociedade tão moralista quanto cínica.

Neste momento, estamos vivenciando a censura que ocorrera no Santander Cultural, em Porto Alegre, durante a exposição de artes intitulada “Queermuseu”.

A referida mostra tinha apenas a intenção de promover a necessária discussão sobre a diversidade de gênero e de sexualidades. Todavia, seguindo a lógica de que “toda nudez será castigada”, a exposição, em si, sofreu estupro moral de uma turba ignara. Depois do estupro, o linchamento.

Vi, por meio de sites, as obras mais polêmicas. Nenhuma poderia ser censurada. A expressão artística não se censura por nada. No mais, elas não mentem, como descaradamente fazem tantos políticos no impuro cotidiano nacional.

Elas podem até agredir os puritanos, pois transpõem artisticamente, no caso, para as telas, muitas práticas oriundas de nossa colonização.

Nesse sentido, o quadro de Adriana Varejão, que expõe a prática de zoofilia, é a mais chocante para a virgindade ocular.

Sendo assim, o máximo que poderia ocorrer naquela mostra era, como já tantos apontaram, a classificação etária, como ocorre no cinema. Logo, se ainda há o que choque, o que fosse impróprio a menores de 18 anos, que ficasse em lugar reservado. Tudo seria resolvido sem estardalhaço. Sem censura.

Mas por que trago isso à tona, se no início deste texto trato da pornografia política que corre solta no Brasil?

Porque a censura, inclusive a política, chega devagar, cavando a sepultura da democracia. Uma vez sepultada, só nos restará conviver na e com a escuridão dos tempos.

Diante do risco cada vez mais próximo, algo precisa nos unir; e logo, antes que seja tarde.

* Roberto Boaventura da Silva é professor de Literatura na UFMT e doutor em Jornalismo pela USP.

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