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Artigos Segunda-feira, 20 de Março de 2017, 11:45 - A | A

Segunda-feira, 20 de Março de 2017, 11h:45 - A | A

opinião

Negacionismo

                                                                                                                                       por Luiz Henrique Lima *

A história conhecida da espécie humana registra alguns encontros e inúmeros confrontos entre fé e ciência. Quando uma descoberta científica contraria um dogma religioso, há duas reações possíveis: ou a revisão do dogma ou a negação da ciência. A segunda atitude, conhecida como negacionismo, alimenta o fanatismo, a intolerância e as perseguições.

No curto prazo, é possível que sobre a ciência prevaleça o poder político, econômico e até militar das organizações religiosas dogmáticas. No longo prazo, sempre vence a razão e os episódios de negacionismo são reduzidos a trágicas manifestações de estupidez.

Um dos exemplos mais célebres foi a perseguição a Galileu Galilei pela Inquisição romana, porque o genial astrônomo, físico, matemático e filósofo ousou afirmar e demonstrar que a Terra girava em torno do sol e não o contrário. Somente em 1983, mais de trezentos anos depois de sua morte, é que a condenação foi revista e Galileu absolvido.

Outro caso conhecido é o de Darwin e a teoria da evolução, até hoje combatidos pelos denominados criacionistas. Malgrado todas as evidências proporcionadas pela arqueologia e pela biologia, que indicam a presença de ancestrais humanos no continente africano há pelo menos 2 milhões de anos, a leitura dogmática das Escrituras, na impossibilidade de queimar o naturalista inglês, destina seus livros à fogueira.

No início do século passado, o Rio de Janeiro foi palco de uma insurreição popular com dezenas de mortos e centenas de presos. O motivo: a recusa à vacinação obrigatória contra a varíola, doença que matou 500 milhões de pessoas até ser erradicada. Contra a política de imunização, proposta por Oswaldo Cruz, um dos maiores cientistas brasileiros, desencadeou-se uma rede de boatos e preconceitos que, explorados politicamente, desencadearam a Revolta da Vacina.

O curioso é que agora, no século XXI, a partir dos Estados Unidos, desenvolve-se um movimento antivacinação, inspirado por seitas obscuras e teorias conspiratórias multiplicadas pelas redes sociais.O resultado é que vírus praticamente erradicados voltaram a circular causando vítimas de doenças como sarampo.

Ademais, o negacionismo anticientífico não é fomentado apenas pelo dogmatismo religioso, mas também por interesses econômicos poderosos. É o caso, por exemplo, daqueles que negam as evidências do aquecimento global em virtude da concentração na atmosfera de gazes do efeito-estufa. Dezenas de milhares de pesquisadores do mundo inteiro têm trabalhado intensamente em redes de pesquisa multidisciplinares produzindo diagnósticos, prognósticos e propostas de medidas preventivas e mitigadoras. São relatórios científicos notáveis pela sua qualidade e pela diversidade de temas abordados: econômicos, sociais, tecnológicos, meteorológicos, oceanográficos etc.

Todo esse trabalho tem sido questionado por um punhado de céticos, de reduzida ou nenhuma importância acadêmica, mas cujas declarações são reverberadas pelos grupos econômicos cujo negócio se fundamenta no uso intensivo de combustíveis fósseis e que também não se acanham de invocar preceitos religiosos. Nada de novo. Também os escravocratas até o século XIX afirmavam que as populações africanas e indígenas não tinham alma e assim justificavam seu comércio. Também a indústria tabagista procurou desqualificar e invalidar os estudos médicos que indicavam a alta letalidade do consumo de cigarros e charutos.

É certo que no campo científico ainda nos resta mais para aprender do que aquilo que já conhecemos. É certo também que novas pesquisas e teorias superam os paradigmas anteriores: a teoria da relatividade ampliou a compreensão do universo além dos limites da física newtoniana que, por sua vez, sobrepujou a visão de mundo aristotélica. É muito provável que no futuro o progresso da ciência desminta ou confirme alguns artigos de fé dessa ou daquela religião.

No meu modo de pensar e sentir, a fé não pode ser cega às descobertas científicas e fé inabalável somente é aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.Afinal, foi Jesus quem ensinou: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (João, 8:31). O negacionismo somente provoca confusão, dor e atraso na evolução espiritual dos povos.

Luiz Henrique Lima é conselheiro substituto do TCE-MT

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