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Artigos Segunda-feira, 05 de Dezembro de 2016, 10:37 - A | A

Segunda-feira, 05 de Dezembro de 2016, 10h:37 - A | A

opinião

Lágrimas cubanas

                                                                                                                                                        por Luiz Henrique Lima*

Não derramo lágrimas por ditadores. Poupo-as para suas vítimas. Quando comecei a atuar no Movimento da Esquerda Democrática da UFRJ em 1979, Fidel Castro já estava superado e encantava apenas a turma do MR-8 e alguns grupos menores. O então chamado 'modelo maoísta albanês' tinha mais adeptos, assim como o eurocomunismo de Berlinguer.

Assim, é com curiosidade que observo a idolatria tardia que alguns jovens brasileiros devotam ao ex-ditador cubano, que já estava no poder quando seus avós nasceram. O paradoxal é que esses revolucionários digitais que enviam condolências pelas redes sociais não terão suas mensagens lidas em Cuba, pois lá a internet é censurada e não pode ser acessada de residências ou celulares.

Assusto-me com a pobreza dos argumentos dos defensores de Fidel. Partido único, censura a artistas, repressão a homossexuais, tudo é justificado em nome dos amanhãs que cantam e pela relativização do 'contexto histórico'. É a mesma relativização dos adeptos da cleptocracia de resultados, que tolera a corrupção sistêmica, desde que praticada com nobres intenções, como a de financiar candidaturas e movimentos ditos sociais e populares.

Não concordo e não aceito. Para mim, ditador bom é ditador derrubado. Corruptos e torturadores do bem são corruptos e torturadores presos. Ponto.

Não compreendo porque músicas de rock e livros de poesia foram banidos por décadas por ameaçarem a pureza cultural da ilha caribenha. Não consigo atinar como a opção sexual de qualquer indivíduo pode colocar em risco a marcha pelo comunismo. Não entendo como milhares de fuzilamentos sumários no paredão, sem defesa ou julgamento, contribuíram para um mundo melhor.

Nesse ponto, vem atese das conquistas sociais da revolução, exaltando índices de educação e saúde. Ora, ficaria surpreso se um grupo aboletado no poder hereditariamente há 57 anos, com controle absoluto do Congresso,Judiciário e imprensa, não tivesse nada a apresentar. Até Saddam Hussein e Stroessner tinham estatísticas favoráveis para mostrar, principalmente porque não sofriam críticas de auditorias independentes. Bem ao lado de Cuba, Costa Rica é um exemplo de ótimos resultados em educação e saúde, sem sacrifício da democracia.

A última defesa é o inimigo externo, no caso, o imperialismo ianque. Sinceramente, não conheço nenhum exemplo histórico de ditadura que, ao entrar em crise econômica, não tenha colocado a culpa no inimigo externo e/ou nos traidores da pátria. Stálin, Mao, Mussolini,Idi Amin etc., todos usaram essa carta.

Sem dúvida, os Estados Unidos são poderosos militarmente e ferozes na defesa de seus interesses econômicos. Contudo, não são invencíveis, como se viu no Vietnã, e nem inflexíveis, como demonstrado diversas vezes na presidência de Obama, especialmente nas negociações sobre o clima. Devem ser tratados com pragmatismo, como fazem os asiáticos, e não com retórica. O boicote foi cruel, mas erra quem subestima habilidades diplomáticas em benefício de maratonas discursivas.

Nunca confiei em quem vai a comícios vestindo fardas, boinas ou outros adereços e alegorias militares, bem como em quem usa e abusa de batinas, bíblias e crucifixos como argumentos político-eleitorais. A democracia é laica e civil, pluralista e tolerante, o que sempre atraiu o ódio de seus inimigos, desde o Irã de Khomeini ao Chile de Pinochet e à Coreia do Norte.

Assim, a exemplo de Hemingway, não pergunte por quem dobram os sinos, eles dobram por Cuba, um belo país, com um povo moreno tão parecido conosco. Não choro pelo ditador que se foi, mas pelas gerações que se perderam, pelos artistas censurados, jornalistas perseguidos, dissidentes encarcerados e famílias divididas. Choro pelos talentos que não puderam servir ao seu país, como professores, juízes ou diplomatas, porque os cargos públicos eram exclusivos dos burocratas partidários. Choro pela beleza e pelo amor desperdiçados. Choro pelas lágrimas que tantos cubanos até hoje não têm liberdade para chorar. E desejo-lhes boa sorte.

Luiz Henrique - Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT

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