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Artigos Segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2017, 09:45 - A | A

Segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2017, 09h:45 - A | A

opinião

Foi por pouco

                                                                                                                                                  por Rosana Leite Antunes *

Maria todos os dias acordava cedo, aproximadamente às 05:30 horas. Preparava o cafezinho para o pai e a mãe, e andava até a escola. Estava na sétima série do ensino fundamental, e gostava de sentar nas carteiras da frente. Era importante sair bem antes do início da aula, a fim de garantir os primeiros lugares.

Entre as meninas, principalmente as mais afetas ao estudo, sentar no "gargarejo" é obrigatório. Segundo relato, nos anos 80, Cuiabá era uma cidade bastante tranquila. Maria morava mais ou menos cinco quadras distante do colégio. Rumava, sozinha, até certo ponto do trajeto, e, mais à frente, encontrava com a melhor amiga para seguir adiante. Era o cotidiano. Aliás, naquela época, era bem difícil pais e mães acompanharem os filhos e filhas até a escola. O mais comum era chegar com a mochilinha nas costas, e a pé. Nos dias de chuva era possível, para os genitores e genitoras que possuíam automóvel, levar os filhos e filhas até o local de estudo.

Certo dia, como outro qualquer, Maria ficou muito próxima da maldade humana. Estava longe de casa uma quadra, eremita, às 6:30 horas nas ruas da Capital. Nenhuma "viva alma" podia ser vista, como todos os dias, e ela se dirigia à escola. Um homem forte, aparentando pouco mais de trinta anos começa a segui-la. Em determinado ponto do trajeto a gruda pelo braço. Ela, temerosa, não pode deixar de perceber que a calça comprida dele estava com o zíper aberto. E ele diz: "Menina, sabe onde tem uma costureira aqui por perto ? Veja, a minha calça está aberta. ". Maria era só medo e mais nada. Percebeu que ele cheirava a álcool.

A família, como um flash, lhe veio à mente. A mãe, por diversas vezes, a pedia para não conversar com estranhos. Agora, naquele momento, ela já sabia a intenção daquele desconhecido, que com a mão segurando forte o seu braço, olhava para todos os lados aguardando uma forma de ataque àquela menina. A adolescente tentou ficar calma para sair daquela situação. Nada, ninguém aparecia para a livrar da enrascada. Quando o homem tentou a agarrar, ela o empurrou com toda a força que podia expressar. Ele, bêbado, caiu no asfalto, e ela se desvencilhou saindo desesperada.

A vítima, muito tímida, foi salva pelas lições da professora da quarta série, que falava dos perigos que poderiam acontecer, neste sentido. A família apenas afirmava que de estranhos, era necessário manter distância. Vinha de ascendentes vergonhosos para falar de sexualidade aos descendentes. Na hora do episódio, Maria, por intuição, percebeu que não era algo bom.

Os noticiários falados, escritos, e via internet, nos relatam muitas situações semelhantes, onde a "sorte" das vítimas não foi a mesma da nossa protagonista. Bebês, meninas, adolescentes e mulheres, são violentadas sexualmente a cada minuto. Afirmar, como muitos e muitas, que os agressores dos delitos sexuais são doentes mentais, é simplório e fácil. A afirmativa processual de insanidade metal obriga a uma averiguação da possível "enfermidade". E muitos exames desse talante são realizados em casos tais. A grande maioria dos agressores sexuais, aos quais acompanhei o processo, e se diziam mentalmente enfermos, não o são.

Asseverar que há provocação feminina à libido dos agressores, pelo uso de saias, vestidos, e shorts é o mais absurdo que se pode dizer. A culpa deve ser atribuída àquele ou àquela que a possui. O que dizer dos bebês, ou recém-nascidos, que são violentados sexualmente ? Não há explicação plausível e convencível para a violência sexual. Quem não consegue se "segurar", fique dentro de casa.

Maria era menina extremante magra e sem qualquer atrativo. Usava óculos e aparelho dentário. Estava de uniforme escolar, ou seja, blusa e calça jeans, e mochila nas costas. Retraída, calada, fazia de tudo para passar despercebida. Mas, mesmo assim, foi por pouco...

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.

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