A bacharel em direito, Elize Araújo Kitano Matsunaga, de 34 anos, deixou às 7h40 desta quarta-feira (30) a Penitenciária Feminina Santa Maria Eufrasia Pelletier , em Tremembé. Ela saiu em um carro fechado e escoltada apenas por uma viatura da Polícia Militar.
Elize, que está presa preventivamente acusada de matar e esquartejar o marido e empresário Marcos Kitano Matsunaga, segue para São Paulo, onde será ouvida pela Justiça a partir das 10h. Além dela, a Justiça irá ouvir a amante de Matsunaga no processo que apura o assassinato do diretor executivo da Yoki. O crime foi cometido em 19 de maio de 2012 no apartamento onde o casal morava com a filha de um ano, na Zona Oeste da capital paulista.
Elize, de 31 anos, e Nathalia, de 24, serão ouvidas a partir das 10h pelo juiz Adilson Paukoski Simoni, da 5ª Vara do Júri, no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste. A imprensa e a população não poderão acompanhar os trabalhos. Essa etapa, chamada de audiência de instrução servirá para o magistrado determinar nos próximos dias se há indícios suficientes para a acusada ser submetida a julgamento popular pelo crime.
A previsão é que Nathalia seja a primeira a falar. Se comparecer, ela prestará depoimento como testemunha e contará como era a relação extraconjugal com Marcos. A modelo poderá pedir a saída de Elize da sala quando for falar.
Depois será a vez de a bacharel ser interrogada na condição de ré para dizer como matou e cortou o corpo do marido em pedaços. Também estão previstas perguntas do defensor dela, o advogado Luciano Santoro, e do promotor José Carlos Cosenzo, representante do Ministério Público, e responsável por acusá-la.
Nathalia
Antes de se casar com Marcos, Elize trabalhou como prostituta. O empresário foi um de seus clientes e a conheceu por meio do site MClass. Em entrevista ao Fantástico, Nathalia afirmou que é modelo e negou ter conhecido Marcos na condição de garota de programa. Em um depoimento ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), em junho, tinha falado que trabalhava como acompanhante de executivos e que conheceu Marcos na internet.
“Eu fiquei abalada. [Para] falar a verdade, eu não sabia às vezes do que estava falando. Foram muitas horas de interrogatório. Eu queria sair dali, ir para a minha casa”, alegou. “Sempre trabalhei com feiras, eventos. O Marcos me presenteava, pagava viagens, como a gente viajou para o Uruguai”, falou, afirmando que o empresário não lhe dava dinheiro.
Em seu depoimento nesta quarta, Nathalia deverá confirmar ao juiz o que disse na entrevista: que Marcos tinha receio de Elize fazer algo contra ele, que o casamento do empresário estava em crise e que tinha uma amizade colorida com a vítima, desde quando o conheceu em 2011, em um evento de negócios.
Segundo Nathalia, ela soube da morte de Marcos pela televisão. Também disse que nunca teve a intenção de destruir o casamento do diretor. “Nunca quis ser o pivô dessa separação, jamais. Falaram que eu destruí um casamento, uma família, e nunca foi a minha intenção. Se ele [Marcos] não tivesse me conhecido, ele iria se separar de qualquer forma”, disse ela.
Elize
Procurado, Santoro não comentou as declarações de Nathalia, que será questionada pela defesa nesta quarta. Para o defensor de Elize o crime foi passional. Segundo ele, sua cliente manterá na Justiça o que já havia dito à Polícia Civil: que agiu sozinha ao reagir a uma agressão de Marcos.
Na versão de Elize, ela revelou ao marido que pagou um detetive particular para flagrar a infidelidade dele com uma prostituta. Depois, Marcos a xingou, ameaçou tirar a guarda da criança dela, e matá-la caso fugisse com a menina. Pela primeira vez no relacionamento, ele deu um tapa no seu rosto. Em seguida, a bacharel pegou uma arma e atirou na cabeça do executivo, depois usou uma faca para cortar seu corpo, colocando as partes em sacos plásticos dentro de malas, jogando-as na Grande São Paulo. Os pedaços foram encontrados no dia 27 de maio.
A viúva, que inicialmente negava a autoria do crime, confessou o assassinato e está presa desde 5 de junho. Atualmente está detida preventivamente em Tremembé, interior de SP.
Segundo a defesa, Elize dirá ao magistrado que 25 dias antes do crime ligou para a Polícia Militar relatando que foi ameaçada por Marcos, e já estava pensando em separação. A conversa para o serviço 190 da PM foi gravada e faz parte do processo.
Também contará que era apaixonada por Marcos mas foi bastante humilhada por ele durante o casamento. A bacharel chegou a fazer álbuns temáticos com as fotos dos passeios do casal para presentear o empresário enquanto ele a traía. Entre as imagens que deu ao diretor estão as registradas também no making off do casamento dos dois. Numa delas, ela aparece com roupas íntimas, se preparando para o matrimônio.
“Para mim, Elize tem de ter julgada por homicídio simples e ocultação de cadáver”, disse Santoro, que pediu a exumação do corpo de Marcos para saber o que o matou. A Justiça concordou. “O laudo do Instituto Médico Legal [IML] é confuso: diz que morreu após disparo e corte na garganta. Quero que os peritos expliquem melhor isso”.
O Ministério Público discorda da defesa: diz que a mulher matou o empresário para ficar com o dinheiro da herança e do seguro de vida dele e que o crime foi premeditado. A Promotoria chegou inclusive a pedir a instauração de um novo inquérito policial para investigar a suspeita de que outra pessoa teria ajudado a bacharel no assassinato.
Para Cosenzo, Elize tem de ser condenada a 30 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado – motivo torpe (vingança movida por dinheiro), utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima e meio cruel (esquartejamento).
Marcos tinha 41 anos quando foi morto. A filha do casal ainda não viu Elize desde que ela foi presa. Apesar de não ter perdido a guarda da criança, não pode ver a menina na cadeia. A Justiça concedeu aos avós paternos a guarda provisória.