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Opinião Quinta-feira, 12 de Janeiro de 2017, 14:08 - A | A

Quinta-feira, 12 de Janeiro de 2017, 14h:08 - A | A

opinião

A despedida de Barack Obama

                                                                                                                        por Vinicius de Carvalho *

Barack Obama proferiu em Chicago seu último pronunciamento oficial como Presidente dos Estados Unidos. Escolheu a sua base política original e lar para onde retorna após os oito anos na Casa Branca (2009-2017). A opção sinaliza que este pode ser não o último, mas o primeiro ato de um novo momento na sua vida política.

No pronunciamento, o ainda presidente relembrou suas principais realizações, deu algumas alfinetadas em Donald Trump e recapitulou o seu credo político. Seu pensamento e ação políticos sempre foram muito centrados nos conceitos de mudança e esperança, muito caros às forças com perfil mais progressista. Destacou uma série de perigos que ameaçam a democracia em seu país e conclamou a sua audiência a continuar participando da política, inclusive por meio da disputa de mandato. Ao revisitar sua trajetória, frisou a importância do trabalho de organização da base, que foi onde começou a exercitar seus talentos e buscar seu espaço.

Mas, ao ouvir seu pronunciamento na íntegra fiquei com a mesma impressão que tive ao um livro de sua autoria, “A audácia da esperança”. A mensagem é muito direcionada para as minorias e o discurso de unidade e integração, tendo os Estados Unidos como a grande “terra da oportunidade” também neste campo civilizatório da diversidade e convivência dos contrários. É o famoso excepcionalismo americano, já trabalhado por outros presidentes.

Mas é um discurso com dificuldade de enxergar todas as diferenças. Por mais que busquemos aquilo que nos une, não podemos esquecer daquilo que nos diferencia. Afinal, também construímos identidade pelas diferenças ou por aquilo que não somos ou queremos ser. Fica tudo muito voltado para as minorias tradicionais, como negros, mulheres, LGBT, latinos, muçulmanos, estudantes, artistas, jornalistas, imigrantes e outros. Mas o outro lado disto é que os brancos estão se transformando numa minoria nos Estados Unidos e passam a ter a mesma necessidade de reconhecimento de suas demandas que os outros atores. Quando olhamos para os brancos com menor escolaridade e renda, isto fica ainda mais notório.

Isto nos ajuda a enxergar o espaço político encontrado por Donald Trump para vencer a eleição de 2016. Os resultados trazidos pela administração democrata são bons na média, mas mal distribuídos. No lugar de uma “audácia da esperança” Trump polarizou o sentimento conservador que podemos chamar de “audácia da desesperança”. Seu eleitorado encontrou no voto um canal aberto para manifestar suas dúvidas, incertezas e, porque não, ressentimentos contra a globalização, na forma e velocidade como vem acontecendo no seu país. Se indagam se este é o melhor modelo e apoiam um retorno a outro período, num movimento muito bem captado pelo lema de campanha de Trump: “fazer a América grande de novo”.

Portanto, de certo modo, Trump foi o anti-Obama. O presidente que ora se despede da cadeira foi a prova viva de que alguém vindo de baixo e com as suas características pode chegar ao mais alto posto do país, graças aos amplos espaços meritocráticos existentes naquela república. Já Trump fez o caminho oposto. Veio de cima para baixo. Um bilionário que se dispôs a entrar para a política partidária e ser a voz de muitos cidadãos que consideravam-se afônicos. O que também é visto como aceitável e comum no campo conservador. Toda sociedade tem e sempre teve elites e alguns integrantes se dispõem a deixar suas atividades profissionais para governar.

Faltou ao partido democrata encontrar um novo Obama e não insistir com uma candidata que já estava envelhecida em 2008. Talvez fosse Bernie Sanders. Mas isto é assunto para outro momento.

Vinicius de Carvalho Araújo é analista político e professor universitário.

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