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Nacional Segunda-feira, 22 de Outubro de 2012, 08:36 - A | A

Segunda-feira, 22 de Outubro de 2012, 08h:36 - A | A

Fantástico

Atirador pediu cigarro e advogado

G1.com

 

As nove horas de negociações com o administrador de empresas Fernando Behmer Cesar de Gouveia Buffolo, de 33 anos, exigiram estratégia da Polícia Militar de São Paulo. Coube ao capitão Gian Paolo Donato, 39 anos de idade, 21 de polícia, a tarefa de ouvir os pedidos do homem que havia atirado contra três pessoas que tentavam interná-lo em um hospital psiquiátrico. Foi a primeira experiência do capitão nesse tipo de ocorrência.

Imagens gravadas pela própria polícia, divulgadas com exclusividade pelo Fantástico neste domingo (21), mostram como foi a negociação.

A Polícia Militar foi chamada após um grupo composto por profissionais de enfermagem, um advogado e um oficial de Justiça serem alvos de disparos. Três pessoas ficaram feridas. O grupo foi até a casa onde Gouveia estava, na Aclimação, região central, com ordem para internar o jovem, que tem problemas psiquiátricos.

Nos áudios registrados pela central de operações da Polícia Militar, os primeiros pedidos de socorro apontavam que a ação poderia ser resultado de um assalto. “Teve arma de fogo! Tem duas pessoas baleadas aqui, gente! Na minha rua, na frente de casa”, disse a testemunha.

Quando chegou ao local, após outros policiais já terem sido recebidos com tiros, o capitão Donato conseguiu, aos poucos, conquistar a confiança do administrador de empresas. “O Fernando exigia conversar com um oficial antigo da PM, citou até o nome do policial, eu me apresentei como capitão e falei que já havia trabalhado com o tal profissional. Então, começamos a estabelecer um vínculo de confiança e passamos a dialogar até o final da ocorrência”, conta o capitão.

De acordo com ele, a ordem para internação era contestada. “O Fernando apresentava um quadro de uma pessoa emocionalmente perturbada. Ele sempre se mostrava inconformado com a ordem judicial que ele tinha em mãos”, afirma o policial.

“Ele pediu o cigarro, e isso foi concedido a ele, e depois ele pediu uma orientação de um advogado, o que foi também concedido”, conta. “A garantia que ele iria sair de lá vivo, e a segurança dele seria respeitada”, lembra.

Na maior parte das nove horas de negociação, o capitão ficou em um quarto na casa ao lado. Protegido por um escudo, ele conversava da janela diretamente com Gouveia e também pelo telefone.

O capitão disse que o administrador sempre conversou mostrando as mãos para provar que estava sem armas. Para o comandante da operação, o estado psicológico de Gouveia era um agravante. “Uma pessoa que muitas vezes está perturbada mentalmente e não consegue compreender a realidade dos fatos, ela cria uma realidade paralela e em função dessa realidade que ela cria, ela passa a atuar”, conta.

As imagens feitas na casa eram enviadas em tempo real pra uma unidade móvel de transmissão da polícia, chamada "Olho de Águia", que ficou parada em uma esquina da região. Elas eram transmitidas direto para o centro de comando da PM, que monitorava a operação.

Ao se entregar, ele foi avaliado por médicos. Primeiro ressaltou sua formação. “Eu sou formado em administração”, afirmou. Para a médica da equipe, negou usar drogas ou medicamento. “Nenhuma, nem medicamento psiquiátrico”, disse ele.

Para o capitão, o momento mais tenso foi a saída. “Porque a gente não sabe, depois de tudo que foi conversado, se teria ou não entendido as orientações que foram dadas a ele pra que ele saísse em segurança.”

Problemas na infância

A família conhecia os problemas psicológicos de Gouveia. Os primeiros sinais apareceram ainda na infância. Ele tinha só um ano de idade quando os pais se separaram. Foi criado pela mãe e conviveu com os filhos que os pais tiveram em outros relacionamentos.

“Quando o Fernando tinha sete anos de idade, ele foi submetido a uma avaliação psiquiátrica e naquela oportunidade ficou ali caracterizado que ele precisava de um acompanhamento psiquiátrico”, diz o advogado Ricardo Martins, contratado pelo pai.

Segundo o depoimento da mãe à polícia, Gouveia foi acompanhado por psiquiatras e psicólogos até a adolescência. Aos quinze anos, deixou a família e passou a morar sozinho em um apartamento. Fez faculdade, trabalhou em uma empresa de informática, mas, por pouco tempo. Ele disse que deixou o emprego por questões de relacionamento e que preferia trabalhar sozinho. Nos últimos meses, Fernando foi ficando ainda mais reservado.

“Ele já havia dito anteriormente que dos 33 anos ele não passaria. E ele completou 33 anos. Foi justamente nessa época que ele some de casa, que ele fica na casa dessa outra pessoa”, disse o advogado da mãe, José Cociolito.

No depoimento, a psicóloga Sylvia Cardim, dona da residência onde Gouveia vivia, disse que eles eram amigos - nunca tiveram um relacionamento amoroso. “E ele vivia dentro dessa casa quase como um recluso, devido ao estado de depressão que ele registrava. E ultimamente à noticia de que estava tendo alucinações e coisas do gênero”, diz o delegado José Gonzaga Marques.

“Ele dizia que ele era chipado. A gente não pode afirmar se era ele e a Sylvia”, conta Cociolito.

A mãe achou que Gouveia precisava de tratamento e pediu uma avaliação para um psiquiatra. Sem nunca ter examinado o administrador e com base apenas nos relatos dos familiares, o especialista atestou que ele tinha alterações psíquicas, e uma possível esquizofrenia. “O paciente muitas vezes ele não tem a crítica sobre a doença, ele nega estar doente. Então vem através disso daí, do relato da família”, conta o psiquiatra Antonio Juviniano de Aragão.

Este atestado foi apresentado pela mãe à Justiça, junto com outros relatórios médicos, para provar que ele não era mais capaz de cuidar de si mesmo. A Justiça decidiu: Gouveia poderia ser internado, mesmo contra a vontade.

Fernando deve ser indiciado por tentativa de homicídio. A justiça já autorizou a transferência dele para um hospital psiquiátrico. O oficial de Justiça e o enfermeiro baleado continuam internados em estado estável. A psicóloga Sylvia Cardim também permanece no hospital, mas a família não autorizou a divulgação dos boletins médicos.

 

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