Dados divulgados pelo Ministério da Saúde na sexta-feira (18.07) revelam um cenário preocupante: Várzea Grande não conseguiu atingir a cobertura vacinal ideal em nenhuma das 22 vacinas monitoradas até 1º de maio de 2025. Enquanto a recomendação é de 95% da população imunizada, os percentuais na cidade ficaram entre 0,12% e 81,66%.
Os números preocupam as autoridades sanitárias e acendem um alerta vermelho sobre os riscos da baixa cobertura vacinal, que pode facilitar o retorno de doenças já controladas no Brasil. O caso mais extremo é o da vacina contra COVID-19: foram aplicadas somente duas doses em todo o município desde o início de 2025.
Recém-nascidos e primeira infância: números abaixo do esperado
Entre os recém-nascidos, a BCG — que previne a tuberculose — foi aplicada em 80,31% das crianças (1.309 doses). Para a vacina contra Hepatite B, recomendada nos primeiros 30 dias de vida, a cobertura chegou a 75,34% (1.228 doses). Já a Pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae tipo b e Hepatite B, registrou 1.161 aplicações, atingindo 71,23% do público-alvo.
Na sequência do calendário vacinal, a cobertura da vacina inativada contra Poliomielite (VIP) chegou a 68,40% (1.115 doses), enquanto a Pneumo 10 — que previne infecções por pneumococo — registrou 78,40% de cobertura (1.278 doses). Para o rotavírus, 76,13% das crianças foram imunizadas (1.241 doses).
Acompanhamento mensal mostra queda gradual
Aos três meses: Meningocócica C com 76,07% (1.240 doses)• Aos quatro meses: segunda dose da VIP alcançou 69,20% (1.295 doses) e da Pneumo 10, 79,45% (1.295 doses)• Aos cinco meses: segunda dose da Meningocócica C manteve 76,07% (1.284 doses)• Aos seis meses: DTP registrou 71,41% (1.164 doses) e Hepatite B, 71,29% (1.163 doses)
Situação se agrava na infância
Aos nove meses, a vacina contra febre-amarela registrou 68,33% (1.222 doses). No primeiro ano de vida, foram aplicados o primeiro reforço da Pneumo 10 (1.284 doses, 79,45%) e da Meningocócica C (1.240 doses, 78,77%), além da primeira dose da Tríplice Viral — contra sarampo, caxumba e rubéola — com 885 aplicações (54,29%).
Entre os 15 meses, o primeiro reforço da DTP registrou 69,17% (1.127 doses) e a vacina contra Hepatite A alcançou 63,44% (1.034 doses). Mais preocupante ainda: a vacina contra varicela (catapora) apresentou uma das menores coberturas, com 52,39% (854 doses).
Para gestantes, a dTpa teve 1.174 aplicações (72,02%). Para adultos não imunizados na infância, a vacina contra febre-amarela permanece disponível.
Cenário mundial espelha problema local
O alerta de Várzea Grande reflete uma tendência preocupante em toda América Latina. Segundo relatório divulgado esta semana pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Unicef, em 2024, 1,4 milhão de crianças nas Américas não receberam nenhuma dose da tríplice bacteriana (DTP). Esse total representa um aumento de 186 mil crianças comparado a 2023.
O documento Estimativas de Cobertura Nacional de Imunização mostra que a taxa da terceira dose da DTP está estagnada em 86%, mas nove países da região permanecem abaixo de 80%, elevando o risco de surtos. Três nações também registraram abandono superior a 10% entre a primeira e a terceira dose do imunizante.
Especialistas alertam para riscos coletivos
Para Alessandra Carreira, da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal, a vacinação vai muito além de uma escolha pessoal — é um ato de proteção coletiva. "Vacinação é uma das estratégias de saúde pública mais eficazes para prevenir doenças, salvar vidas e promover o bem-estar coletivo. Mais do que opção individual, imunizar-se é um ato de responsabilidade social", afirma Carreira.
Ela destaca o risco real de doenças graves voltarem a circular: "Quando parte da população deixa de se vacinar, doenças antes controladas podem retornar. Já observamos aumento de casos de sarampo e coqueluche em algumas regiões do país".
Entre os impactos diretos da não vacinação estão o aumento de internações, sobrecarga do sistema de saúde, afastamentos do trabalho, surgimento de sequelas e mortes evitáveis. "Manter a caderneta de vacinação atualizada não é medida de proteção individual, mas também compromisso com o coletivo. Confiar na ciência e combater a desinformação são atitudes essenciais", completa.
O efeito guarda-chuva da imunidade coletiva
A enfermeira Ana Julya faz um apelo direto à população, destacando o papel da vacinação na proteção coletiva: "Quando nos vacinamos, não cuidamos só de nós mesmos, mas também protegemos toda a sociedade. Isso se chama imunidade coletiva."
Para explicar o conceito, ela usa uma metáfora simples: "Imagine que chove (a chuva representa o vírus) e algumas pessoas têm guarda-chuva (a vacina). Se poucos estiverem protegidos, muitos ficarão expostos. Mas se a maioria tiver guarda-chuva, até quem não tem poderá se abrigar e garantir sua proteção. É assim que funciona a imunidade coletiva."
Ana Julya ressalta que as vacinas são gratuitas e oferecidas pelo SUS a toda a população, sendo seguras, eficazes e fruto de anos de pesquisa científica. "Vacinas salvam vidas. Um exemplo claro aconteceu durante a pandemia da COVID-19: com o início da vacinação, os casos graves e os óbitos despencaram. Ciência demonstra, diariamente, que se imunizar é essencial", conclui.
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