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Opinião Quarta-feira, 01 de Outubro de 2014, 11:00 - A | A

Quarta-feira, 01 de Outubro de 2014, 11h:00 - A | A

Opinião

Ataque homofóbico em debate é redução do marco civilizatório

Os debates eleitorais vinham desanimados –mas, conseguiram ficar ainda piores.

terra.com

Os debates eleitorais vinham desanimados –mas, conseguiram ficar ainda piores.

Já faz tempo que os encontros deixaram de ser memoráveis.

A participação de um número expressivo de candidatos. O treinamento pelos marqueteiros. Um cipoal de regras que limita os confrontos e o desenvolvimento das ideias.

Poucos têm alterado o quadro eleitoral e cada vez menos são notícias no dia seguinte, além dos memes e virais que divertem nas redes sociais.

O último exemplo, todavia, foi uma exceção. E uma triste exceção.

Nem Dilma, nem Aécio, nem Marina foram seus protagonistas –mas também é uma pena que tivessem deixado de sê-lo, tal como Luciana Genro ou Eduardo Jorge.

Quem fez com que o debate se prolongasse na discussão, foi o nanico Levy Fidelix, perpétuo candidato que, neste ano, deixou de lado a histriônica e isolada proposta do aerotrem.

Fidelix foi mais para baixo e talvez saia da eleição com a nota lamentável de um debate, encharcando de violência, onde não se esperava mais que uma figuração.

Fidelix utilizou a reposta a Luciana Genro sobre famílias homoafetivas para uma mensagem contundentemente homofóbica.

A grosseria sem tamanho sobre “órgãos excretores e reprodutores”, a confusão maliciosa e perversa entre homossexualidade e pedofilia, a consideração do gay como doente mental, a atribuição de caracteres nocivos como a “falta de vergonha na cara”, e “o negócio é feio”. Por fim, o comando de “enfrentar essa minoria”, sugestivamente, mencionando a própria avenida Paulista, palco de várias agressões a homossexuais.

A grotesca mensagem ficou encartada entre outras tantas manifestações dos candidatos, como se fosse uma mera opinião ou expressão livre de uma plataforma política.

Teria sido melhor que depois de ouvi-la, os candidatos simplesmente se levantassem e dessem o debate por encerrado; no mínimo, que pautassem suas falas em face desse absurdo. Teria sido muito mais didático do que agressões paralelas ou promessas alternadas entre si.

Um candidato a presidente deve ter pulso para repelir qualquer ideia que hostilize a democracia e ensinar a seus liderados os limites do debate.

Permitir que o debate eleitoral sirva de rebaixamento ao marco civilizatório é um paroxismo da democracia.

Afinal, só quem não tem compromissos reais com a democracia é que pode resumi-la à liberdade de qualquer expressão.

O estado democrático de direito não é apenas a realização da vontade das maiorias; mas a intransigente defesa das minorias, da diversidade e da pluralidade.

O pluralismo, fundamento da República, é a razão pela qual a moral não pode ser objeto de apropriação pública, e a igualdade não permite que os agentes do Estado tratem de forma diferenciada qualquer pessoa por sexo, raça, origem social ou mesmo orientação sexual.

Não se pode conclamar o ódio pela diferença, a superioridade pela raça ou o preconceito homofóbico como expressões livres na democracia. Porque de fato, elas não o são.

Quando se discutiu, no STF, os limites da liberdade de expressão, na canhestra proibição judicial da Marcha da Maconha, Celso de Mello frisou os limites intrínsecos à própria liberdade.

“A incitação ao ódio público contra qualquer pessoa, povo ou grupo social não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão. Cabe relembrar, neste ponto, a própria Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), cujo Art. 13, § 5º, exclui, do âmbito de proteção da liberdade de manifestação do pensamento, “toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência”.

A hesitação quanto à defesa do casamento igualitário, após reclamações do pastor Silas Malafaia, colocou Marina em uma situação de constrangimento. Dilma fez campanha prometendo a criminalização da homofobia que em seu governo, também premido por apoios e vetos evangélicos, não foi capaz de cumprir.

Apesar de várias candidatas mulheres à presidência, o tema do aborto está quase interditado no debate, resquício ainda da pauta conservadora da eleição passada, em que o final do primeiro turno se deu entre altares e coroinhas.

Mas nem todas essas dificuldades da realpolitik podem permitir que a homofobia, enquanto discurso de rejeição e ódio, tenha os horários eleitorais como transmissores.

O que se trata por aqui é até mais do que igualdade, respeito ou consideração.

Toda vez que alguém com poder ou influência assume em alto e bom som que é preciso combater homossexuais, o que estão em jogo são vidas humanas.

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