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Artigos Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 2016, 09:45 - A | A

Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 2016, 09h:45 - A | A

Velejar no contravento

Velejar no contravento é outra história.

Luiz Henrique Lima*

Há quarenta séculos, no Egito, o ser humano dominou o conhecimento da navegação a vela.Velejar com vento de popa não exige muita habilidade. Basta apontar a proa na direção do vento, folgar ao máximo a vela mestra e relaxar. É a mesma situação de quem governa em épocas de crescimento econômico. Não é necessário grande esforço para ampliar a receita e sempre há margem para expandir as despesas: assistencialismo nos redutos eleitorais, benesses para o funcionalismo, subsídios para os empresários amigos, obras faraônicas e até, de vez em quando, uma iniciativa útil para a coletividade.

Todavia, comandantes inexperientes, preguiçosos ou arrogantes conseguem se complicar mesmo nas situações mais favoráveis. A preguiça os impede de manter a embarcação nas condições adequadas de segurança. A inexperiência não os deixa entender que as condições climáticas são mutáveis no tempo e no espaço e as alterações de temperatura e pressão impactam nos ventos e nas marés. A arrogância não lhes permite ver, ouvir e sentir a tempo os sinais que indicam a necessidade de correção do rumo.

A literatura marítima registra casos de naufrágios facilmente evitáveis se houvesse uma liderança atenta, humilde, prudente e destemida. O mesmo também ocorre na gestão de países, empresas e organizações. Há alguns poucos exemplos clássicos de dirigentes trapalhões que conseguiram ao mesmo tempo expandir os gastos e reduzir a produção, aumentar a inflação, o desemprego, a dívida, os juros e os impostos e, ainda, piorar os indicadores sociais, tudo isso quando a economia mundial e a dos países vizinhos crescia a um bom ritmo.

Velejar no contravento é outra história.

Para alcançar o destino almejado não é possível traçar um rumo direto. São necessárias inúmeras manobras, alternando a posição das velas entre bombordo e boreste. As ondas pela proa tornam o equilíbrio oscilante. Rajadas mais fortes exigem constante regulagem, tanto das velas como do leme, orçando e arribando em sintonia fina para não perder o norte. O capitão deve ter pulso firme e tranquilidade para orientar os tripulantes. São momentos em que se requer engenho e arte, ciência e sensibilidade, autoridade e empatia. O mesmo sucede na condução de negócios públicos e privados. Nas horas de borrasca, o que menos adianta são condutores autossuficientes ou que enjoam à primeira turbulência. De fato, o melhor comandante é o que antevê a chegada da tormenta e se posiciona de modo a dela tirar proveito.

Os ventos são sempre instáveis, tanto para velejadores como para governantes. Os executivos eleitos em 2014 enfrentam fortes ventos adversos no cenário econômico e social, mesma situação que aguarda os prefeitos que elegeremos este ano. Há que entender que não devem governar à revelia dos limites ditados por essa realidade, sob pena de soçobrarem.

Nos veleiros, quando se enfrenta uma tempestade, há consciência da escassez de recursos e da necessidade de empregá-los de forma equilibrada. Quando a embarcação navega em águas rasas, elimina-se o lastro; quando corre o risco de adernar, desloca-se o contrapeso; quando a intempérie aumenta de intensidade, riza-se o velame.

Em nosso país, o custo do desperdício tem sido tão ou mais significativo e condenável que o custo da corrupção. Eliminá-los, ou reduzi-los ao máximo, produzirá expressiva receita adicional. Em vez de aumentar impostos, melhor tentar aplicar com parcimônia a receita existente. Gastar muito nunca foi sinônimo de gerir com qualidade. Inúmeros exemplos nas áreas da educação e da saúde demonstram que os melhores resultados não são alcançados por quem utiliza mais recursos, mas por aqueles que empregam com mais sabedoria o montante disponível.

Dos esportes olímpicos, a vela é um dos que mais propiciou conquistas de medalhas para o Brasil. Temos exímios navegadores nas várias modalidades do iatismo, desde a prancha à vela às regatas transoceânicas. Talvez seja útil que, em tempos de contravento, nossos líderes reflitam sobre as lições de nossos velejadores.

 

*Luiz Henrique Lima - Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT

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