Quando toca o alerta de chegada de uma nova mensagem no WhatsApp, o quanto você fica ansioso para lê-la? Em apenas seis anos, o aplicativo já conseguiu fazer a cabeça de mais de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo — tanto que algumas já são consideradas viciadas nele. Por isso, pesquisadores do Instituto Delete, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acabam de criar um teste para medir o grau de dependência dos usuários dessa tecnologia.
Segundo a psicóloga Anna Lucia King, o tempo que se gasta com o WhatsApp é o fator menos determinante para avaliar se o uso é normal ou patológico. Quem passa o dia teclando por razões de trabalho, por exemplo, faz apenas uma utilização abusiva da ferramenta. Mas, se a troca de mensagens atrapalha a vida pessoal, social ou profissional (como deixar de cumprir prazos na entrega de trabalhos), é sinal de doença associada.
— São esses pequenos prejuízos diários que caracterizam a dependência. Nesses casos, sempre há um transtorno mental por trás, como ansiedade, depressão ou compulsão — diz Anna, pesquisadora e diretora do Instituto Delete.
Entre as consequências desse vício estão isolamento, fobia social, síndrome do pânico, dores na coluna, obesidade, distúrbios do sono e alterações de articulação ou visão.
— A dependência pode fazer a pessoa piscar menos e projetar a cabeça para a frente, prejudicando a cervical. A luz das telas afeta a liberação da melatonina, que regula o sono, afetando a qualidade do descanso — afirma o psicólogo Cristiano Nabuco.
App provoca liberação de dopamina
A chance de se comunicar e receber respostas imediatas é o que explica o fascínio dos usuários pelo WhatsApp, diz a psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do Setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
— Qualquer possibilidade de reconhecimento de uma expressão humana pode ser prazerosa — afirma a médica.
De acordo com o psicólogo Cristiano Nabuco, todo comportamento repetitivo (como comer e comprar) é capaz de criar um processo de aprendizado cerebral que gera sensação de prazer, por meio da liberação do neurotransmissor dopamina. Com isso, a pessoa se sente realizada e engajada a repetir aquelas ações.
— O WhatsApp é um plano B que torna mais fácil lidar com situações desconfortáveis do cotidiano. Se o chefe briga com a pessoa, ela conta isso a um amigo pelo aplicativo e recebe conforto, logo o cérebro aprende que aquilo é uma fonte de prazer — ressalta Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.
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