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Artigos Terça-feira, 23 de Maio de 2017, 13:35 - A | A

Terça-feira, 23 de Maio de 2017, 13h:35 - A | A

opinião

Brasil sem homofobia

                                                                                                                                                                por Daniel Almeida da Macedo *

Homofobia significa aversão a pessoas homossexuais, bissexuais ou transgêneros. Manifesta-se na forma de atitudes como antipatia, desprezo e hostilidades em relação a todo aquele que tem um tipo de orientação sexual não-heterossexual. Mas a homofobia é, sobretudo, estranhamento. Uma espécie de sentimento que surge a partir do inesperado, daquilo que é pouco habitual ou desconhecido e que, portanto, causa espanto, relutância, resistência.A tensão gerada pela aparente impossibilidade de conciliar os sentimentos contraditórios em relação ao outro, ou seja, da vontade e do medo de se saber mais e compreender a respeito daquilo que é "estranho", pode eclodir na forma de ódio.

Outras formas de preconceito como o racismo, a intolerância religiosa, a xenofobia e a misoginia também parecem operar desse modo. Todas são manifestação primitivas de repulsa e ira que acompanham a humanidade desde a antiguidade. Na pós-modernidade, no entanto, as manifestações de ódio passam a assumir uma aura de pseudolegitimidade, como se esse tipo de discurso fosse agora validado pelo direito de liberdade de expressão. Em uma sociedade inclinada ao narcisismo e cada vez menos receosa de se expor, o espaço para a privacidade tornou-se cada vez mais reduzido. É curioso notar que há apenas algumas décadas, era nesse cômodo íntimo chamado privacidade onde as pessoas guardavam seus sentimentos menos confessáveis. No espaço da intimidade os preconceitos e as intolerâncias aguardavam o momento em que,ao longo da vida, seriam apaziguados. Fosse por meio de experiências ou aprendizados, o olhar depreciativo que se tem sobre o outro poderia ser transformado pela reflexão.

Hoje, contudo, não há tempo para reflexão pois as opiniões não permanecem no plano interno do indivíduo por muito tempo e logo saltam para as redes sociais e para os diálogos via whatsapp. No passado recente, o pudor em manifestar idéias criava um terreno fértil para a ponderação. Agora, as diversas plataformas virtuais e sistemas de comunicação ao alcance de todos se converteram em arenas em que o mundo pessoal interior repleto de preconceitos é trazido em estado bruto para espetáculos de intolerância.

Pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais estão entre aqueles que mais sofrem com manifestações de ódio que se originam em redes sociais, extrapolam o ambiente virtual e assume contornos de extrema violência nas ruas das cidades. De janeiro a maio desse ano, 117LGBTs foram assassinadas no Brasil, segundo a ONG Grupo Gay da Bahia (GGB). Isso significa um assassinato a cada 25 horas. Não resta dúvidas que a comunidade LGBT representa um grupo social especialmente vulnerável em meio à assombrosa realidade de violência que alcança todos os brasileiros. Em relação aos transexuais, cumpre destacar que a situação é ainda muito mais grave. Essas pessoas são realmente muito desprotegidas e sofrem com a indiferença de grande parte da sociedade e também de agentes públicos que as consideram verdadeiras aberrações do tecido social.

Todos temos o direito de exprimir ou não pensamentos, mas a liberdade de expressão não é um direito absoluto. O discurso de ódio tão comum nas redes sociais ocorre quando a pessoa se utiliza irresponsavelmente de seu direito à liberdade de expressão para inferiorizar e discriminar outrem baseado em suas características, como sexo, etnia, orientação sexual, religião, entre outras. Um dos princípios da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana e quando um homossexual, um negro ou uma mulher são ofendidos pela sua condição ínsita ou orientação sexual, todos os brasileiros são ofendidos pois somos uma nação. As pessoas muitas vezes respondem com violência quando não conseguem superar o desafio imposto pela alteridade, mas essa não é uma regra incontornável. O que é desconhecido causa estranhamento e às vezes medo, e esse estado pode levar a julgamentos injustos, mas é preciso dar oportunidade para a reflexão e para o aprendizado que surge com as experiências que a vida proporciona. Ponderar sobre a natureza dos sentimentos que influenciam as opiniões pode significar na transformação do olhar depreciativo que temos sobre o outro.

* Daniel Almeida da Macedo é doutor em História Social pela USP.

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